segunda-feira, 6 de abril de 2015
Na esquina marcada
Parecia invisível, apesar de ficar o dia inteiro sentado no peitoril de uma vidraça enorme de um banco na esquina principal da cidade grande. Talvez o olhar perdido fizesse isso. Talvez as marcas de lobotomia. Ninguém olhava, ninguém reparava a presença. Ele olhava, ele reparava. Ninguém sabia onde dormia, mas não era na rua. Suas roupas sempre eram impecavelmente limpas e ele vestia sempre terno cinza e camisa branca sem gravata. Os sapatos brilhavam muito sob a luz do sol. As meias eram finas e pretas. Da multidão que passava perto, ele marcava algumas. Com a mente. Era o início da sua missão. Nos finais de semana, quando o movimento naquela esquina diminuía drasticamente, ele rodava a cidade e sempre ia na direção certa dos "marcados". O ritual, então, se repetia. Não havia agressão, violência, nada. Ao encontrar essas pessoas ele apenas se postava à frente e elas eram obrigadas a olhar para os olhos dele. Aí, acontecia: elas se tornavam honestas.
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