quarta-feira, 8 de abril de 2015
Na telinha
A mensagem ninguém viu, mas ele leu e ficou daquele jeito, paralisado, com a telinha do aparelho celular perto do rosto. Parecia uma dessas estátuas humanas das ruas de qualquer grande cidade. No começo achavam que era uma brincadeira, mas a mulher e os filhos começaram a desconfiar que não pois ele ficou bem diante da outra tela, a da tv digital de 60 polegadas - que ninguém podia ver direito por causa daquele estorvo. Aconteceu quando ele estava saindo cedinho para o trabalho e sua companheira de 30 anos só foi pedir ajuda depois do Jornal Nacional, ou seja, quando começou a telenovela em seus capítulos decisivos. Petrificado estava, de olhos abertos, respiração e pulsos normais. Tentaram tirá-lo dali, a mulher com um olho nele e outro no galã recuperando a mocinha - mas não teve bombeiro, médico, ninguém que conseguisse. Pensaram em chamar um guindaste, mas não havia como entrar na sala do sobrado. Na madrugada, quando todos, cansados, foram dormir, a telinha do aparelho acendeu novamente e uma nova mensagem o fez voltar ao normal. Lá estava escrito: ninguém te ama.
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