quarta-feira, 1 de abril de 2015

Carregador de livros

Os livros estavam empilhados numa estante dentro da garagem que virou depósito de tranqueiras. Eram muitos. Além destes, havia caixas e caixas de papelão cheias que foram parar ali quando ele se mudou para aquela casa já ocupada. Deixou-os quietos, mas foi comprando mais e lendo os novos no seu velho estilo de quatro, cinco, seis simultaneamente, com a exceção dos grandes ídolos. Sim, ele era macaco de auditório de alguns escritores, como o Fonseca, o Chandler, o Roth, o King, o Capote, o Wolfe, o Talese, o Castro, por aí. Esses ele pegava e devorava sem dar atenção a nenhum outro. E fazia isso na cama, no banheiro, na sala, no escritório, etc. Com o tempo foi esquecendo os da garagem, até que conseguiu um espaço para acomodar todos com o carinho devido. Abriu o espaço sombrio e passou a transportar seu tesouro antigo. À medida que ia empilhando os exemplares junto ao corpo, começou a sentir algo diferente, só identificado na terceira viagem. O contato deles o fazia recordar em ritmo acelerado tudo o que já tinha lido. Recebeu uma overdose de literatura com ingredientes de vários gêneros. Quando terminou tudo, descansou com a certeza de que sua vida e seu vocabulário tinham ficado muito mais enriquecidos.

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