terça-feira, 31 de março de 2015

O sorvete é...

Enfiou a língua no bola do sorvete e olhou para o céu. A lua começou a derreter e a boca se encheu de poeira. Lunar? Não acreditava na descida do homem lá, porque tudo tinha sido feito num estúdio escondido num deserto. Talvez até atrás daquela montanha do Contatos Imediatos do Terceiro Grau. Spielberg já filmava? Olhou de novo. Um foguete entrou no olho da lua e o sorvete agora parecia o globo terrestre esperando o Grande Ditador para brincar. Algo estava acontecendo e ele tentou rememorar. Foi a buchada de bode, pensou. Ou a meia garrafa de Pitu, calibrada com doses de Jurubeba. O Expresso 222 parou perto e ele quis seguir a Procissão. Olha a faca! Prepare o seu coração, pras coisas que eu vou contar, eu venho lá do sertão... O Fino da Bossa agora está no palco do céu, mas João Gilberto ainda faz dim-dom. Ele achou que era hora de dormir. Guardou o sorvete no bolso da camisa e mandou um beijo para São Jorge Benjor.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Presentes

De Dalton Trevisan


— Sabe o que o João deu para o nenê, filho dele? Meia dúzia de fraldas e um pião amarelo.

João Bosco Jade


Vou me matar!!

Ela tinha acabado de enfiar a esponja dentro do copo quando o celular tocou uma, duas, três vezes. Parou, lavou as mãos, enxugou no avental mesmo e atendeu. Era a cunhada, lá dos confins do Brasil, dizendo que ia se matar se o marido a largasse. Acostumada com a família aloprada espalhada pelo território nacional, ela respondeu com um rosnado, desligou o telefone e foi terminar de lavar a louça do almoço na casa da patroa. O telefone tocou novamente. Ela não atendeu. De novo, aí ela atendeu e já ia dizer para a cunhada que ela deveria era fazer uma festa em vez de ameaçar tomar veneno de rato. Antes disso, contudo, a outra contou que apareceu uma "irmã" da igreja, que aquilo tinha sido coisa de Deus, que estava mais calma e que já tinha esquecido a ideia de acabar com a própria vida. A milhares de quilômetros, com a pia de aço limpa e brilhando, a que ouviu tudo tomou um gole de café forte e pensou: "Mas se eu contar essa história para meu irmão, ela, que é falha das ideias, não vai ter trabalho de se matar - é ele quem vai fazer o serviço". 

quinta-feira, 26 de março de 2015

imperativo da primavera

De Roberto Prado

humano, assuma o ar silvestre
época de amor conforme o calendário
flores façam tudo o que não digo
coração, aceite o eixo terrestre
ninho esta vida leve no bico
viva de brisa o papo sozinho
estações, aqueçam seu poeta
primaveras, passem com carinho

Itamar Assumpção Prezadíssimos Ouvintes


Em busca do tempo

Leu num livro a história de uma cidade de Minas Gerais que perdeu o tempo. Queria ir para lá de qualquer jeito. Teve de esperar. Ele sonhava acordado com a chegada naquele vilarejo escondido entre montanhas e onde o povo falava daquele jeito, uai. Estava escrito que, sem luz, água encanada, nem radinho de pilha, porque ali as ondas não chegavam, alguém um dia se deu conta que a única folhinha do calendário que existia estava defasada. Aí um começou a perguntar para outro se lembrava em que dia estavam. A cidade inteira não sabia. Foi então que encontraram a solução: mandaram um emissário a cavalo resgatar o dia, o mês, o ano, enfim, o tempo, em outra cidade. O que se encantou com a história finalmente foi para lá, mas isso depois de anos. Encontrou o lugarejo, que era mais ou menos tudo o que imaginava: uma rua com algumas casas, um bar, uma pequena farmácia, um armazém, gente conversando na soleira da porta... O coração disparou de felicidade. Mas logo veio a decepção quando um matuto ouviu o sinal e tirou o aparelho celular do bolso da camisa - para falar com um compadre.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Nome

De Paulo Leminski

A noite - enorme
Tudo dorme
Menos teu nome

Sergio Murilo Broto Legal


Viagem ao teto

Não gostava de drogas alucinógenas. Na verdade, tinha medo. Leu tanto sobre viagens sem volta durante aqueles anos de paz, amor e napalm na cabeça dos vietcongs, que evitava. Tomava os goles, fumava um e o máximo de doideira que fez foi misturar macarrão, feijão gelado e salada de maionese para acalmar a larica numa madrugada de fumacê. Um dia apareceu um selo de ácido numa viagem ao litoral. Ele resolveu experimentar, mesmo lembrando dos trechos delirantes dos livros de Carlos Castañeda e do bruxo Don Juan que acabara de ler. Guardou a mercadoria, voltou para a cidade grande e, na casa de uma prima, onde parou para dormir, aconteceu. Tomou o LSD e ficou esperando algo que, na sua imaginação, com o passar do tempo, não veio. No meio da madrugada, sem dormir, foi para a cozinha, abriu a geladeira, pegou as duas dúzias de ovos que ali estavam e explodiu-os no teto para ver o efeito. Só então caiu no sono. Quando acordou estavam limpando tudo. Ninguém lhe perguntou nada. Ele viu as manchas amarelas que pairavam sobre a cabeça de todos. Eram as marcas de sua única viagem.

terça-feira, 24 de março de 2015

Ipês floridos

De Helena Kolody


Festa das lanternas!
Os ipês se iluminaram
de globos de cor-de-ouro.

Benito de Paula Ah! Como eu Amei


Mote

Vinha se arrastando pela vida como um mulambo. Um dia não teve mais forças na alma para se levantar e sair do quarto infecto que lhe sobrou de um herança que um dia reluziu a ouro. Tinha queimado tudo e nem lembrava como, porque os neurônios também entraram na fogueira. Acordava, olhava a claridade filtrada na veneziana de madeiras podres, e ficava ali a pensar fragmentadamente, como se a sua mente fosse um caleidoscópio alucinado que só lhe trazia péssimas lembranças. Foi enfraquecendo com os dias. As alucinações aumentaram. Até o dia em que o "monte mote de monte" surgiu escrito na parede suja que ele ficava olhando horas e horas imaginando figuras no reboco mal feito. Rolou do colchão que estava no chão, se arrastou até o banheiro, se segurou na beira da privada, abriu a torneira e do cano caiu a água gelada da salvação. Enquanto pensava no "monte mote de monte", se limpou, vestiu a melhor roupa, saiu cambaleando, tomou um café, comeu um pão, pagou com uma nota de bêbado, entrou numa igreja, rezou, fez o sinal da cruz com água benta e, na saída, encontrou um amigo de longa data que apareceu - e foi seu anjo da guarda enquanto ele passou a criar o monte de mote da sobrevivência.

segunda-feira, 23 de março de 2015

sem licença

De Paulo Leminski


cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença


Leandro e Leonardo Talismã


Vazados

O olho foi vazado por uma caneta tinteiro quando ele estava para se formar no primário. Não foi sem querer. Ele perturbou o colega de classe que era branquelo, tímido, inseguro, enfim, tinha tudo o que o resto da classe queria para desopilar em cima. Mas era ele o que mais perturbava. Até aquele dia em que não falou mal do garoto que ficava vermelho por nada. Apenas disse que uma menina estava muito a fim dele - para fazer sexo. A Sheaffer tinha uma pena linda, parecida com uma unha - e ela entrou feito faca em manteiga amolecida pelo calor. Cego, colocou um tapa-olho e, mais tarde, ao ler a história de Lampião, encasquetou que era descendente de um dos cangaceiros que tiveram as cabeças cortadas depois da emboscada em Angicos. Guardava em casa armas e indumentárias que mandava trazer do Nordeste para o Sul Maravilha. Um punhal de lâmina enorme era seu objeto de estimação. Ele até dormia com ele. Uma noite, não se sabe como, aconteceu: ele perdeu o outro olho, espetado que foi por mais uma ponta de aço.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Para o nenê

De Dalton Trevisan

— Sabe o que o João deu para o nenê, filho dele? Meia dúzia de fraldas e um pião amarelo.


Carlos Gonzaga Diana


A química da cola

O professor tinha a cara de um daqueles cientistas nazistas dos filmes norte-americanos. Era careca e nunca ria. Seu guarda-pó descia até o meio das canelas e sempre estava amarrotado - mas nunca sujo. Dava aula de química e ninguém naquela sala de meia centena de adolescentes conseguia tirar uma nota maior que seis em suas provas. Até que veio a definitiva - e ele deu dois temas que deveriam ser estudados para que o escolhido na hora fosse desenvolvido. Todos fizeram as duas colas, já que o texto era escrito em papel almaço sem timbre nenhum. Mas... Como trocar a folha em branco pela que estava previamente feita? No dia do martírio, com todos nervosos, ele entrou com cara de sacana, sorrisinho disfarçado. Deu o tema e, para espanto de todos, saiu da sala, foi passear no longo corredor daquele colégio público, conforme um aluno mais ousado verificou da porta. Nunca tinha feito isso. Todos trataram de colocar a cola em cima da mesa e esconder rápido a folha em branco. Ele retornou quase no fim da aula. O rosto brilhava de contentamento. Uma semana depois trouxe as provas corrigidas. Ninguém tirou mais que cinco - para aprender a colar direito.

quarta-feira, 18 de março de 2015

o poema como eu quero

de antonio thadeu wojciechowski


eu gosto da coisa real
centrada em si mesma
rica em efeito especial
lixa sob o fluir da lesma
uma puta poesia pura
água que pedra fura
alegria de mulher nua
lente no olho da rua
coisa de quem acha
e não de quem procura

Benito de Paula Ah como eu Amei


No fim do corredor

Na minha cabine tem uma micro-tv. Preto e branco. Me trouxeram um dia lá do Paraguai. Deixo ela sempre ligada, mas sem som. Estou dentro de uma cabine que fica no fim do corredor da entrada do prédio comercial. Parte da minha vida se passa aqui. Me pagam para ficar durante toda a noite e madrugada. Depois da meia-noite não passa ninguém lá na rua. Minto. Às vezes um bêbado ou mendigo perdido. Tem uns que me olham. Eu olho para eles. Somos iguais, mas estou aqui protegido - fingindo que protejo. O corredor fica no escuro. A luz amarela espetada sobre a cabeça deve transformar minha aparência numa coisa de meter medo, mesmo porque de boniteza talvez eu tenha apenas a alma. Ganho dois salários mínimos. Não preciso mais. Saio daqui quando começam a chegar os funcionários da limpeza. Nunca durmo em serviço. Faço isso lá no meu barraco de um cômodo. Já me disseram que sou muito solitário. Não penso muito nisso. Nasci assim. Não conheço pai ou mãe. Acho que meu coração é de pedra. Mas eu choro quando vejo na tela minúscula uma criança perdida.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Museu

De Nelson Capucho

Anoitece na praia.
Tudo é vasto; o mundo, os astros:
museu de infinito.

O anjinho

O anjinho nunca lhe saiu da cabeça. Não lembra das feições, mas era um bebê que chorava muito lá no fundo do ônibus. Ele viu também a mãe tirar o peito murcho para lhe dar leite, enquanto se servia de um pedaço de frango com farinha que ela e o marido tinham trazido para comer durante a longa viagem do sertão nordestino para São Paulo. No terceiro dia, o choro parou. Ele, que era uma criança um pouco maior, de nove anos, viu o motorista entrar com o ônibus numa cidadezinha para conversar com algumas pessoas. O anjinho foi deixado lá, para ser enterrado - porque a viagem tinha de continuar para aquela meia centena de passageiros. Os pais não choraram nem se lamentaram. Talvez aquilo fosse comum no lugar de onde vinham. Na rodoviária da cidade grande o menino acompanhou os dois carregando as trouxas mulambentas no meio da multidão. Era tudo o que tinham - além do anjinho que ficou sozinho no meio do Brasil.

Tião Carreiro, Pardinho e Seleção de Pagode


quinta-feira, 12 de março de 2015

Emilinha Borba Fora do Samba


Um grito

Me pagam para bagunçar o coreto. Sou profissional em transformar manifestações em atos violentos, de preferência com mortes de inocentes. Tudo por uma causa. A minha é o dinheiro, porque me lixo para quem está pagando e para quem está morrendo. Faço isso desde os tempos dos gorilas. Cheguei à essência de dar apenas um grito no meio da multidão para tudo se transformar num inferno. Os queimados são os que vão atrás das palavras. Multidão é monstro sem cabeça. A cabeça sou eu. Do mal. Depois fico vendo na tv o estrago que causei. Gosto de fazer isso contando o dinheiro. Sempre peço em dólares. Dinheiro brasileiro é pobre como o povo. Este mesmo que é tudo maria vai com as outras e fica aceitando palpite de bandalhos piores do que eu. Esquerda e Direita são vermes da mesma espécie. Quem me paga está pairando acima disso tudo e sabe onde o estrago vai dar. Caras pintadas que respeito são aqueles fardados que baixam o porrete oficial para aumentar o estrago. Polícia. Não me meto com eles. Sei que há infiltrados no povão, mas conheço todos pelo comportamento. São policiais até se se vestissem de padre. Por isso sei onde me colocar. Sei quem são os que precisam apenas do grito. E eu grito. Depois vou descansar.

quarta-feira, 11 de março de 2015

embaixo

De Paulo Leminski


lá embaixo
vai ter
o que eu acho

Renato Borghetti Rancheiras


Ler e escrever

Sei ler e escrever porcamente. Isso se deve ao amor. Tenho um diploma pendurado na parede da minha cobertura. Esclareço que faturei muito por outros motivos. Se dependesse da minha leitura e da minha escrita, jamais teria saído daquele mocó na vila. Meu problema sempre foram as professoras. Não que elas não soubessem ensinar. A maioria sempre foi dedicada, apesar do salário de fome, mas a questão é que eu me apaixonava por todas, parecia vício - e lá eu queria saber de conjugação de verbos imperfeitos? Elas nunca me deram bola, mesmo porque eu ficava no fundão da sala e parecia um rato molhado, esmirrado e acuado. Concluí todas as etapas porque na escola pública é proibido repetir. Depois fiz uma faculdade de ensino à distância e ganhei o canudo. Coloquei alguém para olhar aquela tranqueira por mim - e fim de papo. Ganhei muito dinheiro de forma ilícita, mas sem matar ninguém, adianto. Também não tirei dos cofres públicos, porque isso eu acho uma sacanagem muito grande. Resolvi contar isso para que um parceiro meu treinasse o texto, como ele explicou. Quer ser escritor, o fulano. Eu fui contando o que queria, ele anotou e depois escreveu. Ele contar minha vida num livro. Eu disse que ela não vale nada. Ele disse que sou um vencedor. Aí já acho que é coisa de puxa-saco - coisa que não gosto. Mas eu tenho a grana e ele sabe ler e escrever.

terça-feira, 10 de março de 2015

Estrelas no muro

De Helena Kolody

Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos.

Rita Lee Mania de Você


Protocolo do mundo novo

O número do protocolo era 108.454. Estava num papel amarelecido pelo tempo. Ele estava no sótão no meio de pilhas e pilhas de jornais e revistas velhas, exércitos de traças, cheiro de bolor. Encontrou aquilo numa caixinha de madeira de forma sextavada. Havia a indicação de um cartório. Imaginou ser algo deixado pelo avô ou bisavô. Nunca seu pai tinha-lhe falado a respeito. Não conhecia a mãe. Ela morreu quando ele nasceu. Se interessou pelo mistério. Curiosidade aguçada pelo forte sentimento saudosista. A casa onde morava parecia um museu de quinquilharias suas e da família. Foi atrás e depois de dias de pesquisa no arquivo-morto lhe entregaram um documento. Era uma escritura de terra. Muita terra. Localizou-a. São Francisco Xavier, em São Paulo. Abriu o Google. Viu serras, matas nativas, cores exuberantes. Foi até lá. Se embrenhou pelo seu mundo novo. Morreu poucos dias depois à beira de um regato. Tinha um sorriso no rosto. Deixou no mesmo cartório a doação para que preservassem o lugar onde descansou.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Rabo de anjo

De Paulo Leminski

Casa com cachorro brabo 
meu anjo da guarda 
abana o rabo.

Ataulfo Alves Pois É


Sem palavras

Ele dominava o cavalo como se quisesse mostrar para o que era, lá no fundo que eu não conhecia - o que tinha ficado para sempre dos tempos em que viveu ali naquele pedaço de terra nos confins. Sentado na soleira da porta eu apenas olhava e ali estava a revelação do meu grande herói. O cavalo era muito mais bonito do que o do Ivanhoé do seriado que eu via na terra sem graça e distante. Terra cinza, sem árvores, onde ele era apenas um operário a cumprir a jornada diária da sobrevivência e a comer a marmita sempre esquentada na água do banho-maria. Espinha ereta, ia e vinha na estradinha de terra e areia. Cavalo na passada, como se estivesse numa passarela. E quando quando o senhor resolvia frear, as patas dianteiras do animal estancavam, escorregavam, levantavam poeira e o focinho baixava quase a tocar no chão. Depois o corpo se virava ao comando dos arreios e o percurso em linha reta era vencido como se o animal e seu dono flutuassem para meus olhos. Depois de algum tempo tudo terminou. Ele apeou da cela e entrou na casa sem dizer nada, como sempre fez e faria por muito tempo. Meu pai não precisava falar.

quinta-feira, 5 de março de 2015

elo

De Paulo Leminski

amar é um elo
entre o azul
e o amarelo

Elis Regina Atrás da Porta


Batatas

Me jogaram na cela como um saco de lixo. Eu me sinto assim desde que comecei a olhar o mundo. Me jogaram aqui porque o dono do mercadinho gritou um tempo depois que enfiei o saquinho de batatas fritas entre os peitos caídos e sem sutiã. Sou uma velha com poucos dentes, poucos músculos, nenhuma beleza e muita pobreza. Fiz aquilo por fome e achei que o saquinho não ia dar prejuízo. Dei uma moedinha no caixa para pagar a caixa de fósforos. Aí as batatas fritas pesaram e o saquinho escorregou e caiu bem entre os pés sujos. Saí correndo. Levei um safanão antes de chegar à primeira esquina. Perdi um dos três dentes que ainda me restavam. Veio a polícia e me jogou neste cubículo com mais 15 homens. Fiquei no meu canto. Eles me olharam com pena. O chefão me ofereceu comida. Eu comi e senti uma alívio no estômago. Não me deixaram explicar a situação para o delegado. Meus netos estão sozinhos em casa e não sei o que aconteceu com eles. Há mais de um mês estou aqui nesta imundície maior que a minha. De vez em quando sonho com aquelas batatinhas crocantes. Acordo com o gosto na boca.