quarta-feira, 29 de abril de 2015
Um vulto que surge no fundo do olho do caranguejo amputado
Ele foi criado dentro do ralo ao lado das mesas do necrotério onde se faziam as autópsias. Se alimentava de pedaços de seres humanos que para lá escorriam. Quando estava grande e gordo, foi comido com todo gosto por um dos vigias do local que ali o colocou para isso mesmo. Ele leu essa história há anos numa reportagem da revista Realidade e ficou pensando no bicho. Imaginou até o que seria dele se um dia escapasse pelas ruas do Rio de Janeiro, onde o fato aconteceu. Anos depois, visitando um paraíso ecológico 400 quilômetros dentro do Atlântico, ficou paralisado ao ver aquele que via só na imaginação. Estava encimado em pedras vulcânicas negras, suas cores eram fortes e mexia apenas os dois olhos que pareciam saltar daquela carapaça. Notou que uma das pernas dele desaparecera, amputada. Foi então que se aproximou e viu: um vulto em pé no fundo de um dos olhos do caranguejo. Forçou a visão e ali estava o homem que tratou da criatura que depois o alimentou.
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