segunda-feira, 18 de abril de 2016
Asdfg
Enquanto ele tomava perfume eu torcia para ficar doente e ganhar uma garrafa de guaraná champagne antártica. Com três anos aprendeu a ler e escrever sozinho. Aos oito, na dor do abandono, encontrou a literatura porque tinha o dom de escrever. Três anos depois, um conto que tem cheiro, fotografia, alma, vida, sol, luz, cores, seres humanos em cenas tão perto do real e nos descaminhos da incerteza, que... Asdfg, minha professora de datilografia se esforçava, mas eu não queria trabalhar como escriturário em banco. Não pensei nisso, nem que, tempos depois, quando a sangue frio o meu amigo lá do norte do mapa se tornava um astro da literatura e do jornalismo, fundindo tudo, aquele treino nas máquinas empoeiradas me fariam falta para... relatar histórias apreendidas em conversas, olhares, bebendo no caldo do que já tinha lido por aqui, no sul do mundo. Trumam Capote no filme de assassinatos misteriosos. Ele inchado, acabado, a imagem oposta do menino bonito que demorou para revelar que queria ser menina, porque, pasmem!, tinha vergonha, apesar do homossexualismo mais que escancarado. Agora as histórias primeiras dele aqui ao lado. Não bebi perfume, mas água de valeta, um drink de boteco centenário. Ele morreu. Eu não. Ele é farol. Eu nado em águas turbulentas batucando as letrinhas da mão esquerda com os cinco dedos. Não é igual, mas é o que me cabe.
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