segunda-feira, 4 de abril de 2016

De misericórdia

Não tem poesia. É podre. Vielas com esgoto passando por baixo. Crianças buchudas, catarro escorrendo. Que chão de estrelas? Que história de viver pertinho do céu? As pernas quase não aguentaram a subida. Menino branquelo não tem problema naquele mundo. Mas alguns olhares furavam. Adolescentes e adultos sem camisa - secos. Mulheres gordas, calças e bermudas apertadas, banha caindo por cima da cintura. Quem me levava tinha me enganado. Disse que os parentes moravam no Rio de Janeiro. Não havia vista para o mar.  Do alto, onde chegamos, para onde se olhava, mais barracos amontoados. O sol queimava a pele. A primeira impressão jamais esquecida. Nada de traficantes e muito menos armas - apenas olhos vivos, como se estivessem atentos para o momento seguinte. Desci para nunca mais subir. Mas entrei - e depois acompanhei tudo, sempre, cujo resumo está em letra de música onde não há saída. Tiro de Misericórdia.

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