quinta-feira, 14 de abril de 2016

Cacos

Cacos de vidro são bonitos. Olhem! Estes que estão em cima dos muros, multicoloridos, pontiagudos. Esperem a hora da contraluz e não há problema se vier uma sensação de admiração, de êxtase. Um caco de vidro conhecido é aquele da garrafa quebrada no balcão, com alguém a segurando pelo gargalo e ameaçando o outro - no filme de faroeste, no de gangues ou no de uma mulher querendo acabar com a vida do canalha. Um maluco comendo caco de vidro pode ser interessante se ele não começar a verter sangue pelos buracos de cima ou de baixo. Se sair com a mão estendida pedindo uns trocados e com um sorriso nos lábios, imaginando o que a gente vai ficar imaginando o que acontece com aquele vidro dentro dele. Enfiei a mão num caco de vidro porque me encantei demais. Era sem cor. No delírio da dor imaginei alguém pedindo loira gelada casco claro. Foram-se alguns nervos. Não vejo mais a palma dilacerada. Tudo se fechou, como uma concha. Os dedos secaram e ficaram grudados para sempre. Cacos de vidros são lindos, mas há perigo na beleza. Vai ver que é isso.

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