quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Boca no trombone

Boca no trombone. Mão na vara. Ele viu sem ouvir. Era uma televisão grande. Preto e branco. Estava pendurada no teto de uma padaria da praça principal da vila. Do outro lado, a torre da igreja protegia tudo. O que seria aquilo? O músico não parava com a cabeça. E a vara ia e voltava. A boca sempre colada. Os olhos, às vezes, ficavam totalmente brancos, como se ele estivesse em êxtase ou morrendo. De prazer, certamente. Que som teria aquele instrumento? Pediu para o portuga aumentar o volume. Ele disse que a tv estava estragada. O pão quentinho saiu. Meia dúzia, por favor! E a música muda comia solta ali enquanto alguém servia ao santo uma dose de Tatuzinho lá no canto do balcão. À noite sonhou com uma banda só de trombones, mas o som não veio. Acordou e foi até a loja de discos. Explicou. O dono colocou uma bolacha no toca-discos. Ele ouviu Raul de Barros. Olhou a foto na capa do LP. Era o mesmo músico da tv. Ele tinha ouvido o som sem ouvir. Nunca mais deixou de acompanhar os trombonistas. Até chegar a Trombone Short. Que felicidade!

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