terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Coisa de bêbado

Um bar escolhido por quem bebe até atravessar as porteiras da razão e ingressar no universo paralelo precisa ser especial. Especial para o delírio. Normalmente é sórdido, mas não como aquele descrito pelo L.F. Veríssimo onde os cães sarnentos eram colocados para dentro e Jesus Cristo pregado na cruz tinha um tapa-olho, que era uma barata esmagada. O bar do bêbado que respira álcool é aquele que é como alma gêmea e onde a bebida, seja ela etanol misturado com água ou uísque 18 anos, tem sabor especial. Ele tinha um assim, perto da casa. Era rico, poderia conhecer o mundo viajando de primeira classe, mas não fazia isso e explicava: "Lá não tem meu bar". Às vezes era obrigado a viajar com a mulher que o aturava há anos. E sempre o carrão tinha problema na estrada. Ele parava o veículo no acostamento, levantava o capô, abria o compartimento destinado à água, tirava um canudinho do bolso e tomava goles e goles de vodka, uma das suas preferidas. Um dia parou de beber, com mais de 70 anos, porque estava com um pé na cova e outro na casca de banana. Se transformou num grande filósofo da vida, viajou o mundo e toda vez que passava em frente ao "seu" bar, apenas balançava a cabeça negativamente, reforçando a certeza de que tudo aquilo não tinha passado de coisa de bêbado.

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