terça-feira, 27 de maio de 2014
A procura
Não aguentou e resolveu procurar. Nem que, para isso, tivesse de fazer o pacto de Robert Johnson na encruzilhada. Desde "batatinha quando nasce" se apaixonou por poesia e, ao longo da vida, percorreu milhares de quilômetros de rimas rimadas e não rimadas dos grandes, dos pequenos, dos médios, dos nem tanto poetas. Guardava tudo e, quando achava que estava passando por algum momento similar ao que imaginava ter lido em algumas linhas, ou entrelinhas, procurava e sempre dizia: "Não é que o filho da puta tinha razão?" Claro que nas dores, nas alegrias, nos momentos nada, nos tormentos, tentou escrever, mas nunca conseguia colocar na folha de papel ou na tela do computador uma única sílaba, quanto mais uma linha ou um verso inteiro. Por isso resolveu procurar de onde os poetas conseguiam tirar ou receber aquilo que passavam adiante e que faziam algum sentido, mesmo sem sentido, aos leitores. Acabou sendo preso com olhar no nada. Segurava um coração sangrando de um corpo jamais encontrado.
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