terça-feira, 13 de maio de 2014

Ouro Verde F.C.

A Copa do Mundo era disputada todo domingo no campinho descaído do terreno baldio da vila, perto da encruzilhada. O adversário era sempre o mesmo, a turma da rua Central, que ficava a duas quadras dali. O horário do jogo também não mudava, para aproveitar o fim da missa das 10h na igreja da praça. O povo que voltava livre dos pecados parava atrás do gol para assistir a disputa. O time tinha nome e técnico. Era o Ouro Verde Futebol Clube, dirigido pelo Foguinho, um ruivo que não podia fazer parte do escrete porque era perna-de-pau e mais velho que todos os jogadores. O vestiário ficava nos fundos da casa do Lupe, ao lado do campo de terra batida. Ele era baixinho e canhoteiro, ou seja, nosso craque. A gente se trocava ali, num barracão onde o pai dele guardava ferramentas e outras tranqueiras. Um dia resolveram construir uma casa no nosso templo de jogo. O campo se foi e não dava para fazer outro- os terrenos que sobraram eram pequenos demais para para traçar as quatro linhas. Tentou-se passar para o futebol de salão, mas não deu certo porque a turma da Central não quis mudar para este esporte. Ele lembrou disso tudo quando voltou lá quarenta anos depois. Jogava de lateral direito, era um jogador regular, mas gostava tanto daquilo que guardou para sempre a camisa do Ouro Verde e pediu aos filhos para que a colocassem no caixão quando partisse para sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário