quarta-feira, 14 de maio de 2014

Profissional

Primeiro queria ser motorista da Viação Cometa por causa do boné que os motoristas usavam quando ele, criança, viajava no Flecha Azul. Depois sonhou ser astronauta porque queria saber como eles faziam cocô e xixi dentro daquelas roupas e daquelas cápsulas espaciais do tempo do Yuri Gagarin. Aí começou a perceber que um salto como esse seria alto demais partindo do subúrbio da grande cidades. Fez testes para entrar em bancos, mas não foi aproado porque era um cata-milho juramentado na datilografia. O pai olhava torto e o obrigou tirar a carteira de trabalho ainda na adolescência. Foi vender fundos de investimento, mas era tão tímido que engasgava na hora da enganação. Polícia Federal e Polícia Militar foram as tentativas seguintes. Reprovado por inanição. Aí fez um vestibular para o curso de letras numa faculdade caça-níquel. Passou, mas o pai teve de pagar as mensalidades achando que poderia ser reembolsado no futuro. O canudo ele deu de presente para a mãe antes de meter o pé na estrada com uma mochila nas costas. Hoje é borracheiro ao lado de um posto de gasolina na entrada de Santarém, no Pará. Está feliz porque acorda e vê da sua janela o rio Amazonas.

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