quarta-feira, 28 de maio de 2014
Fardas e fardados
Ela sempre teve atração por fardas. Desde criança. Olhava os escoteiros como se estes tivessem vencido uma Guerra Mundial. Depois foram os guarda-mirins e, mais tarde, na adolescência, os soldados do quartel do Tiro de Guerra que ficava próximo à sua casa. Não, não assistia ao desfile de 7 de Setembro na cidade onde morava porque tinha medo de ter um treco, um ataque do coração, trombose cerebral ou algo assim. Nunca namorou homem algum - com farda ou paisano. Aquilo era um mistério na família, mas ninguém questionava. Estudou, fez curso de datilografia, trabalhou um tempo como secretária de um escritório de advocacia, mas um dia resolveu largar tudo e ficou em casa curtindo um gato, um cachorro, um papagaio e as blusinhas de crochê que fazia para doar a entidades beneficentes. Envelheceu. Até que um dia, quando ainda estava lúcida, ouviu alguém perguntar sobre a paixão antiga. Ela começou a chorar e, quando se refez, disse que era a maior frustração da vida dela. Qual? Queria ser alfaiate só de uniformes militares.
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