quarta-feira, 21 de maio de 2014
Chama e lama
Estava lá. Era o que importava. O primeiro festival de rock da vida. Fugiu de casa com a mochila velha nas costas e sem um puto no bolso. De carona em carona chegou à fazenda um dia antes de o som das guitarras começarem a cortar aquele céu, aquela mata e o coração dos ouvintes. Havia muita segurança protegendo a propriedade. Ele esperou a noite cair. Uma chuva despencou junto com a escuridão. Lama. Lembrou de Woodstock, a inspiração para toda uma geração. Procurou um rio. Achou um córrego, entrou nele, passou por debaixo de uma cerca de arame farpado. Rasgou a camiseta e um corte fez o sangue escorrer. Não ligou. Estava ligado. Foi se ajeitando bem em frente ao palco. Estava cansado, molhado e sujo, mas feliz. No dia seguinte, mais chuva e aquele mundo de gente de todos os cantos. Alegres, olhos brilhantes ou injetados. Na paz. Até que o primeiro acorde explodiu. Ele fechou os olhos, levantou e começou a dançar como um alucinado. Na coreografia dos passos, que só parariam na madrugada do dia seguinte, uma frase entrava entre as berradas das letras das músicas. Criação própria: "Rock na lama também sai chama". A dele era a da vida que decolaria a partir dali.
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