quinta-feira, 15 de maio de 2014
Do lado de cá estarei lá
Tem certeza que ouviu a voz no meio da madrugada. Acendeu o candeeiro e a primeira coisa que viu foi a Winchester 44, cano sextavado, encostada ao lado da cama daquele barraco no meio do nada. "Do lado de cá estarei lá". Enrolou o fumo de corda na paia, como dizia, tragou e começou a pensar naquelas palavras. Muito sábias, concordou consigo mesmo. Ele mesmo, ali, naquele chão pisado só por Antonio das Mortes num passado que ficou apenas na lembrança dos moradores mais distantes. Ele mesmo era temido em toda a região - e não via motivos para tanto. Tá certo que não deixava ninguém chegar perto da sua choupana e quem fizesse isso teria um dos joelhos estraçalhados por um tiro certeiro. Não lembra quantas vezes isso tinha acontecido, mas com pena mesmo ele ficava do susto que tomavam o bode e as cabras que criava ali ao lado, no cercado de terra batida. Concordou então que, de fato, do lado de cá com certeza estaria do lado de lá, no medo do que pensavam nele. Então apagou o cigarro num copo com água e o candeeiro com um soprão - e foi dormir sossegado.
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