terça-feira, 10 de março de 2015

Protocolo do mundo novo

O número do protocolo era 108.454. Estava num papel amarelecido pelo tempo. Ele estava no sótão no meio de pilhas e pilhas de jornais e revistas velhas, exércitos de traças, cheiro de bolor. Encontrou aquilo numa caixinha de madeira de forma sextavada. Havia a indicação de um cartório. Imaginou ser algo deixado pelo avô ou bisavô. Nunca seu pai tinha-lhe falado a respeito. Não conhecia a mãe. Ela morreu quando ele nasceu. Se interessou pelo mistério. Curiosidade aguçada pelo forte sentimento saudosista. A casa onde morava parecia um museu de quinquilharias suas e da família. Foi atrás e depois de dias de pesquisa no arquivo-morto lhe entregaram um documento. Era uma escritura de terra. Muita terra. Localizou-a. São Francisco Xavier, em São Paulo. Abriu o Google. Viu serras, matas nativas, cores exuberantes. Foi até lá. Se embrenhou pelo seu mundo novo. Morreu poucos dias depois à beira de um regato. Tinha um sorriso no rosto. Deixou no mesmo cartório a doação para que preservassem o lugar onde descansou.

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