quinta-feira, 19 de março de 2015

A química da cola

O professor tinha a cara de um daqueles cientistas nazistas dos filmes norte-americanos. Era careca e nunca ria. Seu guarda-pó descia até o meio das canelas e sempre estava amarrotado - mas nunca sujo. Dava aula de química e ninguém naquela sala de meia centena de adolescentes conseguia tirar uma nota maior que seis em suas provas. Até que veio a definitiva - e ele deu dois temas que deveriam ser estudados para que o escolhido na hora fosse desenvolvido. Todos fizeram as duas colas, já que o texto era escrito em papel almaço sem timbre nenhum. Mas... Como trocar a folha em branco pela que estava previamente feita? No dia do martírio, com todos nervosos, ele entrou com cara de sacana, sorrisinho disfarçado. Deu o tema e, para espanto de todos, saiu da sala, foi passear no longo corredor daquele colégio público, conforme um aluno mais ousado verificou da porta. Nunca tinha feito isso. Todos trataram de colocar a cola em cima da mesa e esconder rápido a folha em branco. Ele retornou quase no fim da aula. O rosto brilhava de contentamento. Uma semana depois trouxe as provas corrigidas. Ninguém tirou mais que cinco - para aprender a colar direito.

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