segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Bola de gude

A poucos quilômetros da frieza do asfalto e concreto havia o mar, uma praça, uma igreja no alto da colina e, perto dali, numa rua de terra, meninos brincando com bolinhas de gude. Ele parou para olhar, sentou no chão e aquelas pequenas mãos e dedos ágeis faziam as esferas coreografarem o jogo que levou seu coração ao passado. Pediu para entrar na brincadeira, ele, um senhor de sessenta anos. As crianças acharam esquisito, mas viram que seus olhos verdes pareciam com as de algumas bolinhas - e a bermuda surrada, a camiseta velha e a sandália de dedo eram a verdadeira identidade de um eterno menino. Ele ficou ali por muito tempo, esqueceu o que foi fazer naquele pedacinho do mundo cujas costas eram protegidas pela Mata Atlântica e o peito por um estuário santuário. Era craque no tiros disparados com o dedão pressionando a esfera contra a dobra do indicador. Acertava as outras bolas a qualquer distância. No final, quando disse que precisava ir, os meninos o cercaram e lhe deram algumas daquelas bolinhas de presente. Ele as guardou no bolso, entrou no carro e, na estrada de terra que o fez voltar para o asfalto que o levou depois para a cidade grande, chorou sozinho no final de uma tarde cercada de silêncio.

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