segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Lobotomia

De repente olho e vejo aqui na mesa uma gaita de boca azul, um pião e a fieira, um calendário Seicho-No-Ie  que ensina "A alegria da alma manisfesta-se nas ações de amor ao próximo", duas agendas telefônicas com mais de dez anos anos de uso, folhas soltas, nomes se apagando, números que não servem mais, um caderno com anotações de viagem que nunca mais abri, um porta-canetas feito no tempo de internamento no manicômio e o telefone vermelho que achei ser do coronel maluco do filme Dr. Fantástico. A quem interessa a descrição? A mim mesmo, porque quem lê vai imaginar a mesa, a tela do computador, talvez o local e não vai passar perto do real. Jornais da semana se espalham pelo chão e há uma arma com mira telescópica num canto. Chumbinho. Sim, matou. O que? Não interessa. Como Lawrence da Arábia, depois da primeira morte, houve prazer. Mas isso faz tempo e eles não apareceram mais no quintal para levar bala. Será que estou ficando louco? De novo? Sei que em casa há uma camisa de força guardada em algum lugar. Já estive dentro dela. Manso. Agora visto roupas de grife e frequento locais onde os tubarões nadam, deitam e rolam. Deveriam ser abatidos - porque mais alucinados. O sangue escorre de suas bocas e eles querem mais. Isso é outra história. Estou sozinho. Tenho cicatrizes grandes nas têmporas. Me falaram em lobotomia. Estou calmo. Vou tocar a gaita e rodar o pião. Com licença.

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