quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Vultos

Óculos na ponta do nariz, estava lendo um trechinho dos escritos de Roger Salter. Este: "Ele está se preparando para a chegada do grande artista que um dia espera ser, um artista no sentido verdadeiramente moderno da palavra, ou seja, sem grandes feitos, mas com convicção pura de sua genialidade". As janelas do escritório estavam abertas no final da tarde e o telhado que dava para ver logo adiante parecia agradecer a partida do sol que o castigou o dia inteiro. De repente, um vulto passa voando e pousa suavemente na beira da calha. Numa fração de segundo. Ao olhar por cima das lentes, o vulto continua vulto. Sabiá, com certeza. De volta à leitura, mais uma: "Ela era calma e lúcida. Tinha a paciência vasta dos insanos". Um grito corta o silêncio. Recebe o aviso de que os da casa lá embaixo estão saindo para uma festa. O pássaro voa. Ele fecha a janela e tenta escrever algo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário