quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A montanha e o rio

Como se fosse uma montanha que sobreviveu ao maior de todos os terremotos. Ficou ali firme, coberta de florestas e bichos que se abrigaram e se salvaram. Passou o tremor, as águas baixaram, o céu abriu, o sol brilhou. Não passou muito tempo e eles chegaram. Primeiro, em pouco número. Depois, como uma multidão faminta. Não de comida, porque traziam alimentos, eram saudáveis e fortes. Sedentos estavam de devastação. Motosserras, machados, armas de todos os calibres, herbicidas, napalm. A destruição era necessária, mesmo sem eles saberem o motivo. A devastação era acompanhada de um grito que vinha do interior da terra, mas eles não ouviam. Era preciso vencer aquela força que venceu a outra força da natureza. Quando tudo estava calcinado, chegaram os aviões para bombardear e deixar o terreno sem nenhuma protuberância. Fizeram isso e do que seria o centro interno da montanha surgiu uma nascente - que logo se transformou num rio. Todos os devastadores beberam daquela água para matar a sede causada por tanto trabalho. O rio era de lágrimas. Eles nunca souberam disso.

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