Eu não vim, eu fui a Piripri. Descobri apenas quando o ônibus parou na beira da estrada no meio do Piauí. O sol rachava o quengo e a cor da paisagem era aquela onde se estabelece há quantos meses não chove no lugar. Paulo Diniz continuou cantando na minha cabeça - e eu nem sei se a Piripiri dele era aquela minha. E o que importava? Será que o amor dali era como o amor da letra? Caminhante faz parada, a voz rascante sempre cantou. Eu parei. Se apaixona pelo ar. Eu respirei e as narinas foram os dutos para entrar um ar quente no meu peito. Os olhos arregalaram e então eu vi um menino com catarro escorrendo, a camisa abotoada errada, o bucho com o umbigo estufado e os pés descalços no chão me olhando. E os olhos dele eram o mar verde a inundar tudo, a transformar aquela aridez em poesia visual e confirmar que cada amigo ali é um irmão. Ele sorriu pra mim, mas antes limpou o catarro com a ponta da camisa. Aí virou as costas e saiu correndo, mas dando uns pinotes numa cena tão alegre, que eu pensei em ficar ali, mas pedindo licença pra chegar, como na música.
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