quarta-feira, 9 de setembro de 2015
O outro
Não era o dia que estava diferente. Tudo estava igual, nada que alterasse a rotina, nenhum acontecimento bom ou ruim. Ele é que estava diferente. Não sabia o que era aquilo. Não, não estava deprimido ou angustiado ou em mania, alucinado, como já tinha acontecido. Era como se não fosse ele - e esse outro não se encaixava em nada. O problema é que tinha de trabalhar, levar as crianças à escola, pagar contas, beijar a mulher no portão, fazer um cafuné no cachorro, essas coisas. Mas... se ele não era ele... Que sensação estranha a lhe apertar o coração e quase lhe tirar a respiração. Tentou meditar. A cabeça pensava como um outro, desassossegadamente - e o tempo, este mistério que envolve a tudo, ah, o tempo! parecia derretido e parado como no quadro de Dali. A noite caiu sobre seus olhos de repente. Ele se escondeu embaixo do cobertor, apesar do calor infernal. Foi então que viu ele mesmo ali dentro. Fez um esforço e se agarrou. O outro dia foi como todos os outros dias normais.
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