quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
Embrulho
Deve ser meio-dia. Estou aqui deitado numa calçada pertinho da esquina mais movimentada da cidade. O sol está forte, mas sinto frio. Um cobertor fedendo a mijo e a cachorro molhado cobre todo o meu corpo. Acordei há pouco com a tagarelice de duas mulheres que estavam perto dos meus pés descalços. Não tomo banho há muitos dias. Na noite passada fui a um mocó num casarão abandonado. Tenho amigos e amigas lá. Tomamos álcool puro e fumamos algumas pedrinhas. O tuimmmmmmmmmmm me alucinou. Sei que houve uma briga por causa de mulher. Igual no tempo em que eu era ser humano normal. Saí de lá correndo porque achei que vi uma faca com lâmina brilhando. Não quero morrer. Ou quero? Não sei mais. Vim aqui para minha esquina, peguei o cobertor que estava escondido, deitei sobre as pedras que não me machucam mais - e dormi. Acordei agora. Uma das mulheres disse que eu parecia um embrulho de pobre. Me ofendi. Sou apenas um embrulho.
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