quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
Estrelas, luz e escuridão
Tinha visto o céu mais estrelado do seu mundo em Porto Seguro, no tempo em que logo depois da cidade, até chegar ao Arraial, não havia uma casa sequer – e a noite era um breu só. Estava embriagado de tudo, principalmente pela vida que, de vez em quando, lhe parecia algo bom demais para ser verdade. Anos depois começou a pensar sobre aquele mar de estrelas no teto negro sem lua, com o barulho do mar a compor a epifania, e logo tudo foi apagado pela luz de uma janela que ficava esperando acender lá longe, toda vez que voltava do colégio à noite, na vila de um subúrbio da megalópole amontoada. Ali, imaginava, era o quarto da grande paixão do menino tímido. Ela também estava voltando das aulas, sabia. Quando aquele retângulo se iluminava, o coração era um só descompasso, a poesia doida dos pensamentos brotando em avalanches – e ele só se acalmava quando a escuridão voltava a tomar conta de tudo. Ela nunca soube disso. Ele nunca falou e também não soube se era mesmo ela quem o eletrificava ao iluminar aquele cômodo. Mas tinha certeza que sim – e isso se tornou uma verdade linda.
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