terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Tibungou!

Tibungou! Antes já tinha visto os olhos de Peter O'toole pregado na cruz e percorrido todo o deserto filmado por David Lean - mas sem achar Lawrence para perguntar como era mesmo aquele negócio de ele ter gostado de matar depois do primeiro teco que deu num figurante. Tibungou! Meu cenário era o descampado do Nordeste brasileiro de miolo mole, onde o mato virou gado, que comeu o pasto, e que secou o céu cantado pelo Cego Aderaldo na poesia de Zé Limeira. Pensei então naquela de transformar bosta em dinheiro para pobre enricar. Tibungou! Há dias confundia tudo porque antes uns cabras contratados chegaram para me furar o bucho, cortar as orelhas e levar para quem encomendou. Resolveram não se sujar de sangue. Me amarraram no meio do nada para morrer de sede e ser comido pelos bichos. Urubu peneirou no ar e desceu antes do fedor da carniça. Bicou no pulso, tirou a corda, agradeci e saí com a a boca seca, quase cego e rezando para qualquer santo, porque não lembrava nem mais de Padre Cícero. Tibungou! Os olhos azuis me guiaram. Até chegar a um delírio que não era oásis, porque naquelas bandas nem conhecem a palavra e significado. Era uma poça de água barrenta, mas ao encostar a ponta do dedo indicador na superfície, ressuscitei, porque fria. Havia o fundo de um pote de barro ali perto. Peguei, enchi cautelosamente até quanto podia. Bebi. Fui ao céu para beijar O'toole e dizer que ele na cruz, em um outro filme, sem farda, piradão, tinha feito o milagre. Depois tibunguei, tibunguei, tibunguei - e de areia virei barro e a mão do divino me transformou em sobrevivente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário