segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
Reconstrução
Só notou a passagem do tempo quando voltou aos lugares onde morou. Nunca tinha saído daquela cidade, mas teve casas em alguns cantos. Uma delas de madeira, com pomar nos fundos e um imenso quintal gramado na frente e apenas uma árvore reinando sobre o espaço; teve um porão, um sobrado, um barraco de fundos, uma que construiu do projeto de um estudante de arquitetura. Quando saía, ele não voltava mais para os locais onde elas estavam. Era instintivo, não fazia nada pensado. Passadas algumas décadas, de uma hora para outra, por compromissos profissionais ou sociais, foi passando naqueles lugares da trajetória da vida. A casa de madeira tinha desaparecido embaixo de uma outra, tipo caixote feio; o porão sumiu assim como todo o prédio acima; o sobrado e o barraco continuavam lá, mas pintados com cores berrantes, assim como a casa do arquiteto, que perdeu as formas, as chaminés, foi emendada a uma outra coisa que a deformou - e ficou azul de ferir os olhos. No entorno destes lugares, a cidade era outra, barulhenta, com comércio e tudo que foi se acumulando nos anos de invasão. Ele então lembrou outro abrigo, no campo, nos arredores da metrópole. Foi lá. Encontrou apenas algumas paredes e ela praticamente toda destruída. Iam construir uma nova no local, aproveitando alguma coisa da antiga Ele não lamentou. Comparou com a própria vida, reconstruída a cada mudança.
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