sexta-feira, 24 de maio de 2013
Candiru
Candiru. Dá no igarapé. Entra pelo cu. Eu pensando na grandeza dos rios amazônicos e o que ficou da conversa com alguém que conhecia toda a floresta foi isso. Candiru. Cuidado! Peixinho pequeno, mas entra no corpo e faz estrago. Tinha mais! Poderia entrar pelo pau também. E rasgava tudo no caminho em busca das entranhas. O matuto que alugou o barquinho na zorra do porto popular de Manaus também falou nele. E acelerou o motor para a divisa das águas barrentas e negras. Depois descambou naquele mundo líquido para as quebradas do mundaréu. Saudade do Plínio Marcos. Mas ele não conheceu o Candiru. Igarapé. Nome sonoro, bonito, mata adentro, olha lá o macaco, olha lá o pássaro, cadê a jibóia? cadê a sucuri? Difícil. A cor barrenta lembrou o povo de pouco tempo antes. Em Cuiabá, aquela cor marrom, bem escura, contrastando, às vezes, com os dentes tão brancos de doer os olhos. Índios. Parecendo coisa de cinema. Será? Mas, em volta, sujeira total. Mas aqui, não. Na veia separada do rio. Um calor de derreter caldeira. Vai pular? E o Candiru? Reze antes. O mergulho. Parecia água abençoada. Um deus Tupã. Ao entrar nela o medo dissipou-se. Esqueci o Candiru. Saí, voltei a Manaus, cheguei em Alcântara, Maranhão, uma semana depois. Fiz um gol de placa na frente de uma igreja em ruínas, mas maravilhosa - golzinho de duas pedras, um toque de trivela, saí para o abraço e caí na metrópole do Sul. Faz tempo. Se o Candiru entrou, até agora ele só fez bem.
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