quarta-feira, 15 de maio de 2013

Os cabelos da palavra

Num dia cinza como hoje é possível se gostar do cinza porque também é uma cor. Num dia de sol radiante num céu de anil, é possível se sentir no mais profundo e imundo dos poços sem enxergar saídas e sem forças  para tal. Isso não é início de conversa para auto-ajuda. Precisa-se muito de ajuda para se ficar num meio termo entre o céu e o inferno, mas sem ser o purgatório. A palavra é a chave. O verbo, aquele, do início. Necessitamos da palavra dita por nós mesmos, na eterna solidão, ou a de alguém que escreva, que cante, que grite, que cochiche, que atropele com verborragia, que diga sem dizer, mas que olhe, precisamos da palavra que escrevemos em qualquer espaço, com lápis, giz, carvão, caneta, máquina de escrever, computador. A que vem não se sabe de onde, soprada por algum deus que não conhecemos, mas acreditamos. Um sim é perfeito. Um não também pode ser. Então nos agarramos nos cabelos dela, a palavra, e o puxão pode arrancar a carapaça, o cofre que protege a alma e o coração, o medo. E então voamos para andar e olhar com a alma serena e descansada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário