quarta-feira, 29 de maio de 2013
Cafezinho com o Tinhoso
Ouviu a proposta e aquilo era como se Nossa Senhora de Fátima resolvesse aparecer de novo. Olhou para o café servido no balcão e quis mergulhar ali, no líquido quente, para sumir, fugir. Era a primeira vez. Não, não era aparição de santa. Era o Tinhoso saído de um desenho de catecismo infantil. Dinheiro. Dinheiro fácil. Era por ele existir, por exercer uma influência que ele sabia não haver, mas que talvez alguém pensasse assim, e estivesse disposto a lhe encher os bolsos para angariar simpatia. Corrupção. Lia e ouvia tanto a respeito, inclusive as piadas, mas nunca estivera ali, diante de alguém a lhe oferecer da forma mais direta. "Quer dinheiro?" Não, ele não queria porque, normal, assim, brasileiro, do batente, sempre trocou o que fazia por alguém que pagava. E pronto. Nada mais. "Você não gosta de dinheiro?", insistiu o outro lado. Não, só quando ele vem em troca do que produzo, mesmo sendo merda, respondeu. E assim acabou a conversa. Na calçada as pessoas passavam alheias a isso. Era uma tarde qualquer. O café desceu num gole. Agora estava na temperatura ideal. O Belzebu esfumaçou-se e deve ter espalhado que aquele idiota acreditava em honestidade. Nunca mais tentaram. Ele acha que vai para o inferno por outras causas.
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