terça-feira, 28 de maio de 2013

Visita

A casa de pau-a-pique estava lá, na beira de um buraco que antes tinha sido um açude onde o tempo fez as traíras aumentarem de tamanho. Tudo seco e esturricado. Mas casa ficou lá, firme, com suas veias à mostra, seu barro de um marrom claro e cheio de rachaduras ali, se sustentando até que alguém viesse futucar e para  aquele pedaço desmoronar e se transformar num pó para ser levado pelo vento, mas só quando ele chegasse. Os dois caminharam algum tempo para chegar ali. Vi de longe. Vi do alto. Ela, baixinha, vestido estampado, pernas cambotas, segurava um guarda-chuva também estampado. Acho que gostava de flores e deveria cultivar um jardim. Ele, um bitelão, costas curvadas, óculos escuros de gente que parecia ser do Sul, por causa da calça, da camiseta com um desenho de banda de rock. Pararam na frente da porta principal do casebre abandonado. Ficaram ali um tempo e eu aqui de riba comecei a imaginar uma história sobre aquela presença no meio daquela imensidão onde o verde andava escasso. Ela deve ter sido criada ali e foi mostrar para o filho. Foi contar histórias do avô e da avó dele. De como ela brincava por aqueles campos e como era recomendada para não ir perto do açude sem companhia. Será que teve bonecas? Deve ter feito alguma de pano, porque, assim, de longe, parece que ela leva jeito de ser costureira. Arrodearam a casa e na certa ela contou que criavam galinhas e porcos naquele quintal imenso. Era uma vida boa. Não se sabe como é agora. Então retornaram e o caminho deles beirava uma linha de trem que não ficava muito distante. O trem não passava mais. Mas no tempo das traíras passavam muitos. Com gente dentro. E ele apitava. E o gado olhava. Depois continuava mastigando e a palma. Eles estão longe. Vejo só dois pontos se movimentando. E o guarda-chuva. O sol assiste a tudo. Desde aqueles outros tempos.

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