terça-feira, 10 de junho de 2014

Coceira

Apareceu como uma feridinha perto do cotovelo. Ficou ali muitos anos. Ele coçando de vez em quando, ou seja, quando ela pedia para ser coçada. Coisa gostosa, rápida. Tanto que, depois ele que casou, à noite pedia para a mulher fazer isso. Depois de um tempo nem precisava falar mais. Só esticava o braço e ela desempenhava o serviço na medida certa, sem forçar, sem arrancar nada. Um dia pediram para que fizesse uma biópsia. Ele nem aí. Até que, certa vez, sozinho em casa, a coceira veio como nunca tinha acontecido antes, de modo avassalador. As unhas não bastavam. Ele ficou tão angustiado que pegou uma faca de pão. E arrancou aquela casca protuberante. Não saiu sangue. Um líquido estranho jorrou sem parar e começou a tomar forma onde caiu. Ele, petrificado, ficou ali olhando uma figura se materializar. Era ele, ou seja, outro ele. E no braço tinha a mesma ferida, só que aberta. Então, ele foi abduzido e entrou inteirinho por ali e nunca mais saiu porque a casquinha fechou tudo.

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