segunda-feira, 16 de junho de 2014

Com certeza da incerteza

Sempre admirou os que pareciam ter certeza de tudo e se mostravam com iniciativa e coragem em qualquer situação. Ele, não. De tão encolhido tinha até uma corcunda, acentuada pela enorme quantidade de pelos que carregava nas costas. Chamá-lo de tímido seria um elogio. Não gostava nem de escolher o sabor do sorvete quando inventavam de levá-lo, à força, a um buffet. Se atrapalhava, se enrolava, um nada tomava conta da mente - e ele ruborizava a ponto de parecer estar perto de um ataque se havia gente estranha ao redor. Nunca namorou. Não porque não quis. Se apaixonava perdidamente, mas... cadê a coragem de se declarar para as musas? Teve até uma que se arrastava aos pés dele, mas de tão atrapalhado, fez o pior: pediu o tempo de um final de semana para pensar e, na segunda-feira, dispensou-a, depois de passar sábado e domingo sem dormir porque não sabia o que fazer. Tinha cinquenta anos quando foi a um circo e uma piada banal do palhaço operou o milagre. Hoje apresenta o espetáculo. Com toda pompa, voz empostada e sem nenhum medo. Mandou até fazer fraque e cartola dourados. Casou com a contorcionista da trupe. É um homem feliz. E desconfia muito de quem tem certeza de tudo.

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