segunda-feira, 2 de junho de 2014
Olho aberto
Não tenho mais tempo. O que é o tempo? Me sufoca pensar que daqui a pouco já foi ontem. Alguém já escreveu isso? Mais uma dúvida no mar de interrogações que me afogam desde que vi a imagem da santa. Sim, era minha mãe e ninguém precisou dizer que era ela porque eu senti. Aí começou! Se fosse permitido não sentir... Me deram uma cartilha que, ironia, se chamava Caminho Suave. Tudo piorou. Todo o universo de informações inúteis caiu em cima e aí eu raciocinava e sentia com palavras, o código de deixar ainda mais louco. Se ao menos houvesse uma uniformidade, um sentido no sem sentido, mas não! As cobranças internas eram maiores do que as externas, mesmo porque papai fechado e não falava, só olhava. Descobri tarde demais que o segredo estava ali naquele olhar. Mas aí ele estava morto e eu não pude perguntar. Apenas olhar para seu olho aberto no corpo inerte. Não chorei. Não sorri. Apenas olhei e fiquei a esperar o meu dia.
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