terça-feira, 3 de junho de 2014

Juntos

Estava lá o menino sentado no pé da árvore. Sob ele e em volta, um verdadeiro tapete de folhas multicoloridas. O menino tinha um cabelo loiro e cacheado que combinava com tudo. Iluminava a cena com um sorriso de anjo inocente. Trinta anos depois quem fez a foto encontrou-a por acaso e foi tomado de uma sensação que não soube explicar. Foi invadido por algo que começou a varrer tanta coisa pesada e doída de dentro da alma que teve vontade de telefonar para o menino, agora adulto, e lhe agradecer. Entre o clique e aquela visão ele se perdeu em universos paralelos e amargou a solidão das catacumbas. Achava que não tinha vivenciado nada do que os filhos tinham lhe passado quando crianças puras. Às vezes imaginava que sofrera uma lobotomia que lhe arrancara as coisas boas, mesmo que raras, e ficado apenas com os pecados, a culpa da existência. Olhou de novo a foto. Telefonou. O filho ouviu e começou a chorar. Disse que, sim, guardava muitos momentos bons como aquele e que o melhor de tudo é que continuavam juntos, que sempre estiveram juntos, mesmo quando o pai estava ausente.

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