quarta-feira, 11 de junho de 2014

Senhorinha

Minha avó tinha cara de índia, logo, era índia. Ela morava numa tapera e criou os quatro filhos sozinha. Um deles é meu pai. Meu pai não tem cara de índio. Tem cara, olhos e tamanho de holandês. Na terra dos baixinhos, ele era um gigante. Mas a dona do terreiro era minha avó índia. Ela pitava um cachimbo com fumo de corda dentro. Criava galinha, porco, vaca. Só não andava a cavalo porque era velha quando a conheci. Minha avó gostava de vestidos longos, escuros, mas com estampa. Ela só ria para os netos quando estes chegavam naquele oco de mundo. Ela tinha um cabelo muito comprido, mas penteava tudo pra trás e fazia uma trança enorme. Minha avó era muito bonita e rude. Ela tinha nome de música, mas a música só fizeram muito depois depois de ela ir embora. Minha avó só casou uma vez e jamais entenderia porque seus netos casaram várias vezes. Minha avó era índia e eu nunca soube de que tribo. Nem ela. Porque só eu sabia disso. Eu nunca agradeci a ela por pertencer à sua tribo. Eu tenho muita saudade dela e de seu sorriso só pra mim. A minha avó se chamava Senhorinha.

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