quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Ao som dos atabaques

As seringas com as doses estavam prontas na bolsa que deixou no carro. Ele tomou um pico antes de chegar naquele lugar. Estacionou. Ouviu ao longe o som de batuques. Entrou. O espaço estava lotado. Ele ficou com vontade de voltar e injetar mais cocaína. As arcadas dentárias travavam uma luta. Grudadas. Um anjo vestido de branco o viu e o chamou. Levou ao senhor de cabelos grisalhos. Ele estava sentado. Olhou na alma daquele que nunca tinha visto antes. Este se acalmou um pouco. O senhor falou como a entidade que tinha baixado. Ele ouviu e nunca mais esqueceu. Ouviu que estava muito atrapalhado, mas que sairia daquilo. Que iria pairar sobre as pontas espinhosas. Ele saiu, pegou o carro e atravessou a noite injetando mais. Anos depois retornou ao mesmo lugar. Ouviu o som dos atabaques, prestou atenção nas letras das músicas, sentiu de novo a força do mar, das matas, das cachoeiras, das pedras... E viu o mesmo santo rindo e dizendo feliz que o menino tinha dado trabalho, mas conseguido.

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