quinta-feira, 16 de outubro de 2014
Na paisagem
A mulher gritou, a filha nasceu, um pássaro voou, ele chorou. Lavou o rosto na água fria do balde. O coração estava aos pulos porque era a primeira herdeira. Ele olhou o pé de manga centenário ao lado da casa. Cachos da fruta ainda verde faziam ele sentir o gosto da fruta. Um bezerro mamava na vaca no cercado. Mais adiante os pés de mandioca denunciavam a hora próxima da colheita. Fim de tarde. A parteira apareceu na porta e perguntou se ele não ia ver a filha. Gritou que ela era saudável e a mãe estava bem. Os olhos marejaram. Ele tomou coragem e foi ver a menina. Mas antes um pé de vento fez um lençol branco quase alçar voo no varal atrás da casa humilde. Foi lá tirá-lo. Viu então o bichinho verde. Gafanhoto lindo parecendo folha estilizada. Estava grudado no pano branco. O vento passou. Ele deixou tudo lá. Entrou com o nome da menina na boca. Olhou para a mulher, para a menina, pegou-a no colo e disse: "Esperança".
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