quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Nos enterros

Gostava de ir a enterros. De qualquer um. Conhecido ou não. O motivo não era mórbido. É que tentava entender porque na hora em que o caixão baixava, ou quando começavam a jogar terra em cima, ou quando uma tampa de cimento fechava a chamada última morada, sempre tinha alguém gritando “eu quero ir junto!” – ou algo parecido. Mas ninguém ia. De tanto ver isso, começou a bolar um plano para satisfazer o desejo dos vivos. Esperava o defunto ser comido pelos vermes, sequestrava a/o escandalosa/o, dopava e enterrava junto ao ente querido. Um dia morreu sua amada. No enterro ele também gritou que queria ir junto. À noite foi ao cemitério e se enterrou – para pagar os pecados.

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