quinta-feira, 23 de outubro de 2014

No filme, na mata

Os olhos do garoto olhando para o céu e morrendo lentamente encantaram. O ônibus abandonado no meio do nada, longe de tudo e de todos. Era um filme, mas baseado em vida real. Ele resolveu que faria o mesmo. Não por causa das outras pessoas. Por causa dele mesmo, que não aguentava as outras pessoas. Não houve tarja preta que o aprumasse. Resgatou a mochila de lona verde comprada anos atrás numa loja de material para militares. Não colocou nada dentro - e foi. De carona, como nos tempos de Woodstock ou, para ficar no país, de Águas Claras. Chegou a uma reserva da Mata Atlântica e se embrenhou. Claro que não iria achar um ônibus abandonado, mas depois de três dias avistou uma barraca tipo iglu no alto de um morrote. Foi até lá. A vista era linda. Ele abriu o zíper da casinha. Havia dois esqueletos abraçados. Estavam dentro de um saco de dormir. Ele encostou-os num canto e deitou ao lado. Não teve medo. Só ficou pensando em quanto tempo chegaria àquele visual. Escureceu. Uma chuva fina caiu.

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