quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Derrubadas

A menina enlouqueceu de vez e ocupou a casa centenária que ficava sob a sombra de uma mangueira mais antiga. A mãe de criação não aguentava mais tanta loucura no meio daquele mundão longe de tudo. Doença da gota serena, dizia. Não adiantaram as rezas, a promessa, a viagem a Juazeiro do Norte, a beberagem em garrafadas, nada. O prato de comida era colocado no batente de uma janela. Ninguém via quando ela o recolhia para comer feijão de corda, farinha e um naco de carne seca. Foi depois de um tempo, entretanto, que os homens começaram a rondar a casa. Sempre à noite. E entraram. E gemidos se espalharam no ar. E a notícia também. Mais homens vieram. Então a mãe fez o que achou certo: derrubou a casa e depois cortou a árvore. A menina sumiu. Um dia foi encontrada ao lado do açude de água salobra. No rosto, inerte, um sorriso doido.

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