segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Fardos

O sonho dele não era ter dinheiro, mas ver dinheiro. Muito. Era pobre, claro, mas tinha o defeito de não dar a mínima para o tal, ao contrário da maioria que colocava o valor do papel fedido como prioritário. De alguma maneira ele juntou a imagem que tinha da infância, a de um monte de tijolos empilhados esperando a hora de entrar na construção do casebre da família, e o que queria presenciar. Um dia, já adulto, conheceu alguém que lidava com grandes quantias. Primeiro ele perguntou quanto cabia numa mochila das grandes. Em dólares. Quinhentos mil foi a resposta. Então contou seu desejo de ver fardos de notas amontoadas. Foi chamado numa madrugada pelo amigo. Entrou na mansão e, no sótão, que mais parecia um loft do tamanho de um campo de futebol, viu a montoeira encostada num canto. Ficou admirando de longe. Não pediu para saber quanto tinha ali - e se era limpo ou sujo. Foi para casa, acordou a mulher e disse que no dia seguinte iria começar a comprar tijolos para fazer o puxadinho dos sonhos. Aquele que aumentaria a cozinha e caberia o fogão de cinco bocas que ela tanto sonhava.

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