quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Esponja

Tem uma esponja tirando minhas forças, empalidecendo minhas cores, querendo sequestrar minha alma. Não sei onde está, talvez aqui dentro, parecida com aquela que incomodava Fernando Pessoa, mas ele sabia descrever e nunca usou esponja para descrever o desassossego. Já estive nas catacumbas, embaixo de cobertor sujo, com medo de olhar por qualquer fresta. Agora não é assim, mesmo porque consigo pensar um pouco, andar, falar, até me entusiasmar em períodos curtos. No mais, olha ela me drenando! O melhor de tudo é que sei que vai sumir, que é preciso ter paciência, mas a danada absorveu isso também. Me mandaram ao supermercado. Fui, obediente. Ainda bem que não pediram o produto, mas eu dei de cara com uma pilha enorme, em duas cores. Tive vontade de ir a outros corredores para trazer os infalíveis álcool e fósforo. Seria uma boa fogueira, mas acho que iria preso como piromaníaco - e a minha esponja particular continuaria firme, me definhando dentro da cela. Agora senti no meu peito a maldita. Vou ficar quietinho. Quem sabe ela se dê conta de que já tirou tudo o que eu tinha e me abandone?

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