quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Madeira
O rio Madeira é marrom. O rio Madeira atrai pelo nome. Fui lá. Queria embarcar em Porto Velho e chegar a Manaus. Minha bunda ficou quadrada antes, porque entrei num toco-duro na rodoviária de São Paulo e rasguei um pedaço do Brasil na estrada. Tinha lido num guia que havia barco todo dia para o que sonhava. Informação errada. Sem dinheiro, procurei um padre e dormi num prédio antigo que tinha sido seminário. Coisa de filme. No dia seguinte, barco, mas só até um vilarejo perdido na mata. Um sargento ofereceu a delegacia do lugar para acomodação. Na rede de uma cela vazia eu apaguei depois de ouvir o som da floresta. Havia uma capela e o povo mais bonito que já vi, principalmente por causa da cor - um marrom que realçava mais no contraste com a mata e por causa dos dentes, brancos de doer. Tomei banho no Madeira. Vi um barco ancorado e a imagem dele de dentro da água era o resumo de tudo. Simples e absurdo. Fiquei ali. Talvez para sempre, mesmo navegando pelo resto da vida.
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