quinta-feira, 10 de março de 2016
Aqui de cima
Daqui de cima o silêncio é perfeito. As cidades parecem amebas amestradas, com veículos em forma de vírus correndo por sua artérias. Há o mar e os rios, mas o cheiro de podre e os dejetos que o bicho homem joga neles não chegam aqui. Restam as montanhas, um pouco de mata nativa, muitas plantações regadas a herbicidas, mas isso não me interessa. Faz tempo que fico observando tudo como se estivesse me limpando do que me atacou aí embaixo. Claro que me chamaram de louco, pancada, esquizo – porque não parava de gritar contra a barbárie da destruição constante. Um dia me penduraram numa árvore. Pelo pescoço. Confesso que não senti nada porque me considerava um morto em meio a tantos vivaldinos. Morri? Não sei. Veio a escuridão e ao acordar estava instalado numa nuvem enorme e que toma várias formas na trajetória inconstante que faz. Estou sozinho, mas finalmente faço chover. Na minha vida na terra eu só chovia no molhado, como diz um ditado popular de lá. Sou um anjo, mas não se preocupem: vingador só quando lembro de alguém que, mesmo para os escrotos que estão bem longe daqui, fez maldade além do normal.
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