quarta-feira, 2 de março de 2016

O fim

Faço o difícil para me agradar. É difícil. Me pediram para visitar um psiquiatra. Não vou. Ninguém pode me entender ou reescrever meu script de vida. Tenho dinheiro. Muito. Mas não gosto. Já morei nos lugares mais chiques e nos mais isolados. Nunca fiquei contente. Quando me falam que sou depressivo, tenho vontade de sacar minha PPK de ouro e dar um teco no meio dos cornos do falastrão. Sou feliz, mas não acho isso. Não sinto agonia em viver, nem fico encostado ou deitado. Mas algo sempre me diz, ou seja, ali dentro da cabeça, que não consegui o que seria o máximo para mim. Casei há muito tempo com uma santa, tenho filhos, eles me enchem de alegria... mas falta algo. Um dia dei a volta ao mundo num veleiro. Sozinho. Já voei de balão sobre o Kilimanjaro. Tenho mais de cinquenta anos e, num dia normal, sem querer, pensei na morte. Descobri que talvez fosse isso: o medo do fim, que pode ser agora.

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