quarta-feira, 9 de março de 2016

Tiro no peito

O tiro foi certeiro, apesar de a lente da mira telescópica estar empoeirada. O bicho medonho e perigoso não parava de saltar entre os galhos da árvore centenária. Às vezes descia ao chão e, de repente, estava num lugar que eu conhecia, na vila. Aí ele voltava. A arma apareceu não sei como em minhas mãos. Pelo peso, estava carregada. Um chumbinho destes de armas de pressão. O que está acontecendo? Agora o animal foi para a rua de terra, do lado da calçada onde havia casas e em frente a um grande terreno baldio. Parou por um instante, o decisivo, o do aperto no gatilho. Ele caiu imediatamente - mas como num filme de Sam Peckinpah (Meu Ódio Será Sua Herança), vi em câmera lenta o pequeno buraco se abrir no peito, um fio de sangue a escorrer. O que está fazendo meu filho mais velho aqui? Eu sou uma criança ou um velho? Ele foi lá e descobriu que o bicho não tinha nada de perigoso. Era um pequeno macaco, já de idade. Deus!! O que é que eu fiz? Mandei o garoto levar o animal inerte para o terreno em frente, onde alguns arbustos poderiam escondê-lo. De que? A angústia se instalou na garganta. Matei! Matei! Olhei então a porta do quarto que estava aberta. Uma luz que vinha do fim do corredor sinalizou que estava na hora de sair da cama. Pulei. Feliz. Fiz o café. Tomei. Mas a imagem do rosto do morto e o buraco com sangue no peito não saiu mais da lembrança neste dia.

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