quinta-feira, 3 de março de 2016

Buraco negro

Acordou e viu que no caderno que mantinha ao lado da cabeceira da cama estava escrito algo novo. "A vida que o homem tem hoje é um enorme buraco negro. E sabemos o que há nele: o nada". Estava assim, entre aspas, para ler como se alguém falasse o tempo todo, infinitamente. Tentou lembrar se tinha acordado no meio da noite ou sonhado com algo parecido. Morava sozinho, sem bicho. No trigésimo andar de um edifício feito para solitários como ele, onde o espaço maior de um apartamento englobava o quarto, que era sala e cozinha, e um banheiro minúsculo, não havia o autor ter sido outra pessoa. As letras em forma estavam bem desenhadas. Eram suas? Pensou muito a respeito disso. Só então notou que não havia a luz da cidade na janela sem cortina, e que ele a do abajur estava apagada, assim como a do teto. Mas tinha lido a mensagem. Estava na escuridão e conseguia ver. Era um sonho? Era um pesadelo? Era o próprio buraco negro? Alguém bateu à porta. Foi abrir. A morte que apareceu no filme O Sétimo Selo estava ali. Disse que chegara a hora, mesmo porque a vida inteira dele tinha sido um fracasso. A foice baixou certeira. Ele não sentiu nada.

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