segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
Amigos mortos
Não acontecia sempre, mas ele via. Ele via seus mortos queridos em corpos de outras pessoas depois que os amigos partiram para sempre. Via também em nuvens, como naquele dia em que estava indo para a praia e parou no acostamento para conversar com o Julio. Ultimamente tem visto muito o Pedro. Agora mesmo, quando saiu do banco, onde foi pegar um dinheiro para pagar a diarista, lá vinha o Pedro do mesmo jeito do Pedro, só que num corpo mais mirrado e parecendo falar com as pedras das calçadas. Era ele, teve certeza. Passou perto, sentiu a força estranha que no passado os uniu em amizade, gosto pelas mesmas mulheres, música e literatura. Ficou feliz por ter visto bem de perto. Da outra vez ele estava muito longe e não deu para olhar direito. Então, chegou em casa radiante por saber que o Pedro está muito bem – assim como o neto do Pedro, que também é Pedro, mas não se parece nada com o avô.
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